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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DE GRAMÁTICA E DE LINGUAGEM

DE GRAMÁTICA E DE LINGUAGEM
E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas.
As cousas sim!...
As pessoas atrapalham.
Estão em toda parte.
Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se.
Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo, nem sempre,
(Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...

domingo, 25 de setembro de 2011

Ler é obter conhecimento




A leitura de livros pode transmitir a imaginação, e o poder de ter mais conhecimento, sobre a ortografia e um vocabulário de auto nível com os intelectuais e também poder de se expressar com mais classe.
A maior tristeza do analfabeto deve ser ele não poder se expressar melhor e nem ter o conhecimento da pessoa que se expressa bem ao conversar. É por isso que alguns analfabetos começam estudar só para ter o prazer de ler, fazendo com que o analfabetismo diminua. A leitura estimula a pessoa a ler cada vez mais, sempre buscando novos conhecimentos. Existem muitos depoimentos sobre pessoas que eram moradores de rua e saíram desse mundo por causa da leitura.
A leitura muda a vida de qualquer ser humano em busca de conhecimento. E você já leu quantos livros esse ano?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

CRÔNICAS


CONFESSIONÁRIO >> Albir José Inácio da Silva
Desde de que me entendo por gente estou às voltas com esse negócio de pecado. Quando adulto o que consegui foi não me importar mais com os acusadores. Mas os pecados mesmos, esses nunca me deixaram.

Na infância os mais graves eram malcriações, pirraças e língua para os coleguinhas. A admoestação me trazia remorsos e obrigava a promessas de não repetir. Em vão. No dia seguinte lá estava eu fazendo tudo de novo. Era mais forte que eu. Eu bem que gostaria de agradar, ser um bom menino. Mas o que conseguia era adicionar outros pecados que a idade ia me apresentando.

Na adolescência acrescentei pecados bem mais graves, segundo me disseram, sem me livrar das culpas da infância. Pequei com o pensamento, com os lábios, mas sobretudo com as mãos. Enquanto era advertido sobre os perigos do pecado, meus pares, principalmente os de saia, me incentivavam a pecar. O Senhor não sabe como é difícil porque o senhor é Padre.

Na universidade pecados sociais se juntaram às anteriores desobediência e luxúria. Por exemplo, não ser miserável como as massas que deviam ser salvas era crime de lesa-humanidade. Isso começou gerações antes, com pais e avós que acumularam a fortuna da casa onde moravam e alguns móveis velhos. E também pagaram escola em vez de tomar o poder para que todos estudassem de graça. O Senhor pode colocar na minha conta mais o pecado de amar esses pecadores e não fuzilá-los.

Já adulto quis a qualquer preço o reconhecimento, o prestígio e o respeito dos outros. A tudo eu justificava com a lei da sobrevivência. Que havia de errado em defender-me nesse salve-se quem puder? O pecado agora, me diziam, era a ganância. De nada adiantaram exemplos de mártires e heróis domésticos, acadêmicos ou religiosos. Acrescente-se o mau-humor e o tédio, que não pode deixar de ser pecado, considerados os danos aos circunstantes. Até o que pareciam boas ações eram na verdade autopromoção, ou guardavam algum inconfessável interesse. Confesso também a ostentação, afinal de que adianta conquistar em segredo.

Agora que a velhice já não me permite tanta atividade pecaminosa, temos um impasse. O Senhor não me absolve porque eu não me arrependo. E eu não me arrependo porque seria hipócrita: sob as mesmas condições de temperatura e pressão e oportunidade eu cometeria os mesmos pecados. Faria de novo, não por achar certo, mas porque não há opção. Se estava escrito que Judas ia trair e Pedro negar, como poderiam eles não fazer? Se não posso escolher o bicho que quero ser, por que é pecado ser humano? Se me queriam culpado, aqui estou. Culpado, mas não arrependido.

A propósito, mais um pecado: morro de inveja porque sei que há por aí pecadores tranqüilos que pedem perdão à noite, zeram a conta, para tornar a pecar pela manhã. Estão sempre em paz, não lhes pesam os pecados.

Não é o meu caso. Os pecados sempre me atormentaram. E, se não posso ser perdoado, pelo menos que me descontem da pena essa vidinha medíocre que herdei, construí ou compliquei, mas que era a única que havia pra viver.

Vida culpada, Reverendo, que já está na reta final mas parece bem pior que o último círculo do inferno de Dante. Sua bênção.


Crônicas de Arnaldo Jabor

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
Arnaldo Jabor

sábado, 27 de agosto de 2011

Fala do Futuro (Poesia Argumentativa)


Fala do Futuro (Poesia Argumentativa)
O futuro da propriedade é o aluguel.
Só haverá dois papéis: o dos locatários e o dos administradores.

Ser chamado "dono" talvez se torne até ofensa.
Quando os capitalistas se tocarem, ficarão perplexos ao pensar que o significado estava lá o tempo todo: "Ativo".

O futuro do governo é a transparência.
O dia em que houver gente com peito pra colocar um mural pro mundo ver as contas de seus líderes, essa pessoa verá seu país crescer despido.
Será tão vergonhoso lembrar da corrupção de hoje como nos é vergonhoso lembrar que sarna já foi mal comum entre os nobres de outrora.

O futuro da compra é a gratuidade.
Os custos estão cada vez mais baixos, e a produtividade, cada vez mais alta.
A concorrência, cada vez maior.
Isso é trabalho redundante.
Trabalho redundante em excesso é ineficiência.
Por isso, perdas.
Por isso, desempregos.
Por isso, recessão.
Se você acha que isso contradiz a primeira estrofe, é porque provavelmente partiu do bom e velho princípio: "Dinheiro".

O futuro da família são pais descasados, dividindo um teto e criando filhos como amigos, recebendo a visita de seus namorados.

O futuro do amor é a extinção do egoísmo.
Tanto daquele advindo do medo de se dar, quanto daquele advindo da vontade de se ter.

O futuro da desconfiança é a libertação.
Não é natural andar por aí achando que os outros não prestam, quando só você não percebe:

Quem não presta está no espelho.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

POEMA DIDÁTICO -PAULO MENDES CAMPOS


Paulo Mendes Campos


Poema Didático


Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo
Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa.
Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos,
Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco.
No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me,
Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me,
Morto do meu próprio pensamento, destruí-me,
Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me,
Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo,
Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria
Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica,
E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais.
Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz,
Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio
E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar ?

Meu instante agora é uma supressão de saudades. instante
Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio
Que me confundiu outrora. Já deixei de amar os desencontros.
Cansei-me de ser visão, agora sei que sou real em um mundo real.
Então, desprezando o outrora, impedi que a rosa me perturbasse.
E não olhei a ferrovia - mas o homem que sangrou na ferrovia -
E não olhei a fábrica - mas o homem que se consumiu na fábrica -
E não olhei mais a estrela - mas o rosto que refletiu o seu fulgor.
Quem agora estará absorto? Quem agora estará morto ?
O mundo, companheiro, decerto não é um desenho
De metafísicas magnificas (como imaginei outrora)
Mas um desencontro de frustrações em combate.
nele, como causa primeira, existe o corpo do homem
- cabeça, tronco, membros, as pirações e bem estar...

E só depois consolações, jogos e amarguras do espírito.
Não é um vago hálito de inefável ansiedade poética
Ou vaga advinhação de poderes ocultos, rosa
Que se sustentasse sem haste, imaginada, como o fiz outrora.
O mundo nasceu das necesidades. O caos, ou o Senhor,
Não filtraria no escuro um homem inconsequente,
Que apenas palpitasse no sopro da imaginação. O homem
É um gesto que se faz ou não se faz. Seu absurdo -
Se podemos admiti-lo - não se redime em injustiça.
Doou-nos a terra um fruto. Força é reparti-lo
Entre os filhos da terra. Força - aos que o herdaram -
É fazer esse gesto, disputar esse fruto. Outrora,
Quando ainda sofria sobre as armações metálicas do mundo,
Acuado como um cão metafísico, eu gania para a eternidade,
sem compreender que, pelo simples teorema do egoísmo,
A vida enganou a vida, o homem enganou o homem.
Por isso, agora, organizei meu sofrimento ao sofrimento
De todos: se multipliquei a minha dor,
Também multipliquei a minha esperança.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

“Os Parceiros”


Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.
Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste…
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.
Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro…eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se
numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce…
Como também disfarce é a minha vida!